sábado, 18 de julho de 2009

Hannah Arendt


Nascida em uma família judia assimilada de Linden, Hanôver, fez os seus estudos universitários de teologia e filosofia em Königsberg (a cidade natal de Kant, hoje Kaliningrado). Arendt estudou filosofia com Martin Heidegger na Universidade de Marburgo, relacionando-se passional e intelectualmente com ele. Posteriormente Arendt foi estudar em Heidelberg, tendo escrito na respectiva universidade uma tese de doutoramento sobre a experiência do amor na obra de Santo Agostinho, sob a orientação do filósofo existencialista Karl Jaspers.
A tese foi publicada em 1929. Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha e passou por Praga e Genebra antes de se mudar para Paris, onde trabalhou pelos 6 anos seguintes com crianças judias expatriadas e onde conheceu e tornou-se amiga do crítico literário e místico marxista Walter Benjamin. Foi presa (uma segunda vez) em França conjuntamente com o marido, o operário e "marxista crítico" Heinrich Blutcher, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.
Trabalhou nos Estados Unidos em diversas editoras e organizações judaicas, tendo escrito para o "Weekly Aufbau". Em 1963 é contratada como professora da Universidade de Chicago onde ensina até 1967, ano em que se muda para a New School for Social Research, instituição onde se manterá até à sua morte em 1975.
O trabalho filosófico de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher.
Livros
O primeiro livro "As origens do totalitarismo" (1951) consolida o seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polémica o nazismo e o comunismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas. Sete anos depois publica "A condição humana" e enfatiza a importância da política como acção e como processo, dirigida à conquista da liberdade. Publica depois "Sobre a Revolução" (1963), talvez o seu maior tributo para o pensamento liberal contemporâneo, e examina a revolução francesa e a revolução americana, mostrando o que têm de comum e de diferente, e defendendo que a preservação da liberdade só é possível se as instituições pós-revolucionárias interiorizarem e mantiverem vivas as idéias revolucionárias. Lembraria os seus concidadãos americanos (entretanto adquiriria a nacionalidade americana) que se se distanciassem dos ideais que tinham inspirado a revolução americana perderiam o seu sentido de pertencer e identidade.
Ainda, em 1963, escreveria "Eichmann em Jerusalém" a partir da cobertura jornalística que faria do julgamento do exterminador dos judeus e arquitecto da Solução Final para a The New Yorker. Nesse livro impressionante revela que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade (como o criam os activistas judeus) mas alguëm terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição. Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica virulenta das organizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontara, apenas, para a complexidade da natureza humana, para uma certa "Banalidade do Mal" que surge quando se condescede com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. Daí conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade.
Arendt regressaria depois à Alemanha e manteria contato com o seu antigo mentor Martin Heidegger, que se encontrava afastado do ensino, depois da libertação da Alemanha, dadas as suas simpatias nazis. Envolver-se-ia, pessoalmente, na reabilitação do filósofo alemão, o que lhe valeria novas críticas das associações judaicas americanas. Do relacionamento secreto entre ambos ao longo de décadas (inclusive no exílio nos Estados Unidos) seria publicado um livro marcante, "Lettres et autres documents", 1925-1975, Hannah Arendt, Martin Heidegger, com edição alemã e tradução francesa da responsabilidade das Editions Gallimard.
Hannah Arendt faleceu em 1975, e está sepultada em Bard College, Annandale-on-Hudson, Nova Iorque.



Conheça algumas frases de Arendt aqui!

2 comentários:

  1. Conheci um pouco da história dessa grande mulher no 1º período de 2009 na disciplina de Políticas Públicas Educacionais no Contexto Brasileiro, através da Professsora Ester Maria Dreher Heuser, e tanto Arendt quanto Ester marcaram essa fase da minha vida, abrindo meus horizontes, influenciando significativamente na formação dos meus conceitos sobre sociedade, educação e política. Agradeço a Professora Ester por ter nos mostrado uma visão diferente do mundo e das coisas, por nos ensinar a pensar de maneira crítica, e enfim, por nos tornar pessoas melhores e cidadãos mais conscientes. Parabéns Ester! Sucesso na nova etapa de sua vida que se inicia!

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  2. Gracy, linda! Que surpresa isso tudo, também tua auto-avaliação. Um pouco de excentricidade vinda da professora ou da estudante atenta faz a vida sair da mesmice, esta que já tomou conta da educação há muito. Foi maravilhoso passar horas das quintas-feiras com vc. Carinhos. Ester

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